quinta-feira, 20 de setembro de 2012


Curtas

Nunca convide para o mesmo jantar Alice, de Lewis Carroll, Mônica, de Maurício de Souza, e Lucille Ball, da série
I love Lucy...
...Alice ocuparia todo o set,
Mônica sairia dando coelhadas nos convivas
e Lucy derrubaria as travessas.



Meu cérebro está a se transformar em película.
Nessas quase duas semanas, vi mais de 20 filmes. Comédia, drama, bons, fracos, medianos, excelentes.
Mergulho quadro a quadro, me perco nas imagens, nos diálogos, personagens, viajo com as histórias.
Vivo um faz de conta de que tudo é verdade.
 
Muitas vezes posso lhe dizer coisas que não te toquem. Saiba descobrir o sentido desses atos, são retratos de minha alma. 

A vida percorre caminhos que nem
sempre identificamos em nossa geografia.

Bebo, e prossigo a cada gole, a cada gesto, no levar o copo à boca, no engolir, no enxugar de lágrimas, no prender o choro,  no sorrir.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

E os ursos pançudos...
 
Nossa história começa no inverno de 1000 e alguma coisa,
na floresta dos Ursos Pançudos. Eles tinham olhos enorrrrrrrrrrrrrrrmes e, apesar da barriga grande, o estômago, aquela caixinha que fica dentro da barriga, era pequeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeno. Tão pequeeeeeeeeeeeeeeeeno, que chegava a ser grande.
Por terem os olhos grandes, tudo que viam aumentava de tamanho. As frutas ganhavam brilho, as flores, um perfume especial.
Nosso personagem se chama Urso Pançudo das Amoras, filho de Papai Pançudo das Amoras e Mamãe Pançuda das Amoras. A família ganhou este nome, porque todos, obviamente, vivem a plantar, colher e comer amoras. Quanto mais comem, maiores ficam suas barrigas... daí o nome “Pançudo das Amoras”. Mas, aqui entre nós, eles comem de tudo. De amoras ao que você puder imaginar ou eles puderem encontrar.
Os Pançudos têm uma tradição,ou melhor, mania, é mania, todo dia, naquela mesma hora, mania: quando chega o inverno, todos precisam plantar amoras, muitas amoras. No bosque há um quadro enorme com o nome dos Pançudinhos. Ao lado dos nomes, os locais onde cada um deverá plantar suas amoreirinhas.
A família cresce junto com o bosque e junto com o bosque crescem suas panças, junto com as panças crescem as amoras e com as amoras, seus olhos.
Naquele inverno, tudo parecia normal... mas coisas aconteceram. O primo do Sr. Pançudo das Amoras, o Sr. Ainda Mais Pançudo das Amoras, um sujeito cheio de ideias, resolveu ter mais ideias, e as apresentou na Reunião Semanal dos Amoras Pançudos e  Afins. 
 
 – E, se em vez de amoras, plantássemos este ano pitangas. Pitangas, pitangas de todos os tipos, tamanhos e cores? – sugeriu o Sr. Ainda Mais e Mais Pançudo, que quanto mais falava, mais pançudo ficava, só de imaginar aquela quantidade de pitanga cobrindo o bosque.
 
A confusão tomou conta da Reunião. Uns achavam absurdo: “Que desatino/loucura!”. Outros, nojento: “Pitanga, meleca, irque”. O Sr. Eu Te Avisei Pançudão completa assustado, “O gosto pode ser estranho, esquisito...”. E havia aqueles que nem sabiam do que se tratava, mas: “Plantar qualquer coisa que não seja amora? Não, definitivamente NÃO!”.
“Afinal, por que incomodava tanto plantar pitangas em vez de amoras?”, pensou o Sr. Ainda Mais, Mais e Mais Pançudo.
 – Mudar dá alergia, coceira, aflição, disse um pançudinho lá do fundo da sala.
 – Mudar dá dor de barriga, piriri e tontura, gritou outro.
E assim foram pipocando os sintomas e as agonias. Tantas foram as manifestações que resolveram encerrar a reunião.
Mas, o Sr. Ainda Mais Pançudo era tinhoooooooooooooooooooooso. Quando enfiava algo na cabeça, costurava o pensamento e não sossegava até sua vontade se realizar.
Assim, esperou a noite chegar e todos os pançudinhos se deitarem. Escondeu-se em uma moita e, quando tudo se aquietou, tirou de seu bolsinho algumas sementes de pitanga. Rapidamente, lançou-as na terra e pensou: “Agora é só esperar brotar”.  
No dia seguinte, como mágica, surge no meio da floresta um belo pezinho de pitanga. Pouco a pouco, os pançudinhos vão percebendo a novidade. Com receio, se aproximam e percebem que nada de mal acontece. Sem brotoeja nem dor de barriga. Uns acham até a fruta bonitinha.
Os comentários começam, e a confusão se instaura. Todos, ao perceberem a pitangueira, querem falar ao mesmo tempo.
 – É a árvore diferente da igual que estamos acostumados?, um pergunta.    – Acho que sim, mas será? ainda não estou sentido nada de estranho, outro responde. 
 – É verdade, também não sinto nada, fala mais um pançudinho.
 
No meio da algazarra, chega o Sr. Ainda Mais, Mais, Mais e Mais Pançudo e tenta pôr ordem na bagunça.
 – Silêncio, meus amigos, silêncio.  Caros pançudos e pançudinhos, como vocês puderam ver, nada de ruim aconteceu. A pitangueira está aí, e nós aqui a admirá-la.
Nesse momento, um grita: “Ela tem um perfume delicioso”. E outro pançudinho completa, “Apetitoso!”.
Daí em diante, todos queriam comentar, admirar e, claro, experimentar. E foi assim que, no inverno de 1000 e alguma coisa, nasceu a primeira de inúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúmeras pitangueiras. Depois vieram as mangueiras, laranjeiras, cerejeiras, pereiras, jabuticabeiras, ameixeiras, limoeiros, cajuzeiros, jaqueiras e todas as árvores frutíferas que se pode imaginar.
E sempre que algum pançudo ou pançudinho sugere, nas Reuniões Semanais dos Amoras, Mangueiras, Laranjeiras, Cerejeiras, Pereiras, Jabuticabeiras, Ameixeiras, Limoeiros, Cajuzeiros, Jaqueiras e Todas as Árvores Frutíferas Que Se Pode Imaginar, há sempre um pançudo ou pançudinho que afirma, “Será que não vai dar coceira, piriri?”. E o Sr. Ainda Mais, Mais, Mais, Mais e Mais Pançudo fala bem allllllllllllllto pra todos ouvirem: 
"Olhem para nossos campos... Se não fosse nossa coragem, curiosidade e empenho, não teríamos toda esta infinidade de sabores, cores e perfumes. Lembrem-se, quando outras ideias diferentes das que estamos acostumados surgirem, temos de tentar, experimentar, experimentar, experimentar.... se não deu certo, não deu e daí, não deu e daí, tentamos diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


terça-feira, 4 de setembro de 2012




Ah... se eu te encontrasse...


 

Se em uma esquina eu te encontrasse, diria tudo que deixei de dizer,

receberia você de braços abertos...

 

Primeiro te abraçaria, bem apertado, pra matar a saudade – 22 anos...

Depois choraria por mim, por você, por nós. Nós que acredito nunca termos sido.

 

E aí, sentaríamos para uma longa conversa. Poderia ser no Rio, onde tudo começou, em São Paulo, ou quem sabe em Verona, onde depois esticaríamos até I Ronchi. Diria que, finalmente, consegui parar de fumar. Que, logo depois que você foi, às vezes levava um susto com nossa semelhança no espelho. Que um ano depois de sua partida, sua filha mais velha se casou, e eu me separei. Que de lá pra cá, me fechei em copas.

 

E te perguntaria tanta coisa... e te falaria tanta coisa, meio sem cronologia, meio sem pé nem cabeça. Agiria como uma criança, e abriria uma caixa de porquês. Por que fiquei, assim, triste? por que não fomos mais presentes? por que não foi ao meu encontro? por que não deixou rastro pra eu ir ao seu?

 

Voltaria a ser criança, adolescente, adulta. Resgataria manhãs, tardes, noites, madrugadas. Natais, réveillons, aniversários, partidas, e, se possível, até meu parto. Dissecaria nossas vidas...  tiraria todas as dúvidas, pagaria todas as dívidas... romperia todas as barreiras... te acolheria, mergulharia dentro de você, meio que voltando, e aí nasceria de novo, sem frio.