segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Ciao, Ameixa
Ainda ouço o barulho surdo....
um movimento quase voo, um mergulho, o partir
Minha mocinha, assanhada, lotada de vida, cheia de alegria, de amor.
Chegou na hora certa, de vagarinho, assustada, ocupando aos poucos a casa.
Me ocupando aos poucos, até me tomar por inteira.
Conforme caminho, tropeço em você. Um pelo aqui, outro ali, um móvel com suas mordidinhas, a barra da capa da poltrona ainda virada pelo movimento do seu corpo ao sair debaixo dela. E pelo amor que vivemos e construímos, terei você sempre em mim, comigo.
Ciao, Ameixa.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
A cidade das rimas
A confusão
era geral. O congestionamento já dava as caras no vilarejo vizinho...
Voltando ao início,
tentarei explicar o inexplicável.
Rimacity era uma cidade pacata.
O dentista, seu Manezinho, tinha consultório,
mas, na verdade, o povo dizia que o sonho dele era ser chefe de cozinha.
A professora,
dona Carlotinha, queria mesmo um dia poder cuidar dos dentes de todo o
povo.
O médico, dr.
Abelardo, gostava realmente de vestir uma sapatilha e rodar mundo dançando.
Enfim, todos
faziam alguma coisa, ou pensavam que faziam.
Num dia, em que chovia mais que pipoca estourando na panela. Sem explicação, as pessoas deram a falar em rima. As repostas podiam não combinar, mas tudo saía em rima.
...na farmácia,
- Bom-dia,
sr. Alfredo, como vai o Godofredo?, dizia
dona Mocinha.
- Vai bem, dona Neném.
- O sr. tem
remédio contra bronquite?
- O de bronquite acabou, mas tenho um pra sinusite. Leve pra sua filha que sofre
deste mal. Ele pensava, “perco a venda, mas não perco a rima”.
...no mercado,
- Olá sr. Waldemar , já decidiu o que comprar?
- Já, sr. Sardinha, quero peixe, pois vou fazer amanhã
de manhãzinha.
- Então fale
com a Laurinha, ela hoje tem maminha bem fresquinha.
E os dias passavam. Bronquite rimando com sinusite, Neném com sr. vai bem...
No início, o
pessoal achou divertido. Depois começou a se preocupar, pois as coisas estavam
ficando confusas. Vejam por vocês mesmos.
Dona
Gumercinda achava seu nariz enorrrrrrrrrrrrme, mas não conseguia rimá-lo com
nada: “meu nariz parece um elefante, já a minha
orelha encosta na minha sobrancelha”. Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
- Então
vamos operar seu pé, que mais parece o boi do seu Zezé.
- O meu pé,
dr.?!!!!! – Perguntou assustada?
E a cirurgia
se deu. D. Gumercinda continuou com o nariz enorrrrrrrrrrme, mas o pé de 40
passou a 34. Precisou renovar todo o estoque de sapatos. E tamancas. Ela era
tamanqueira, dançarina de folcore lusitano. Mas desse jeito conseguiu finalmente dar os passos de seus sonhos,
além dos saltos, é claro.
O exemplo
mais curioso aconteceu com o sr. Otaviano, o pescador. Precisava reformar o
casco do barco e fazer alguns reparos. Queria aumentar o negócio, poder vender mais
peixes. Ao chegar à oficina, sem pensar, foi logo dizendo: “Quero consertar
minha embarcação. Do meu pesqueiro, que tal fazermos um barco de passageiro?”.
Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
E o conserto
foi feito. De pesqueiro passou a barco de turismo. No fim, seu Otaviano, ficou bem
contente, já não tinha mais idade para enfrentar o mar, correndo atrás de
peixe.
De caso em caso, a cidade se transformava. Seus moradores trocavam de ocupação, mudavam de cardápio, refaziam amizades, se divertiam com tanto movimento, tanta vida...
E, assim, volto ao começo...
A confusão
era geral. O congestionamento já dava as caras no vilarejo vizinho.
Agora posso
explicar o inexplicável: a mania da rima se espalhou. Todos queriam ir a
Rimacity, que, na verdade, antes se chamava Lugar Comum.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Curtas
Nunca convide para o mesmo jantar Alice, de Lewis Carroll, Mônica, de Maurício de Souza, e Lucille Ball, da série
I love Lucy...
I love Lucy...
...Alice ocuparia todo o set,
Mônica sairia dando coelhadas nos convivas
e Lucy derrubaria as travessas.
Meu cérebro está a se transformar em película.
Nessas quase duas semanas, vi mais de 20 filmes. Comédia, drama, bons, fracos, medianos, excelentes.
Mergulho quadro a quadro, me perco nas imagens, nos diálogos, personagens, viajo com as histórias.
Vivo um faz de conta de que tudo é verdade.
Muitas vezes posso lhe dizer coisas que não te toquem. Saiba descobrir o sentido desses atos, são retratos de minha alma.
A vida percorre caminhos que nem
sempre identificamos em nossa geografia.
Bebo, e prossigo a cada gole, a cada gesto, no levar o copo à boca, no engolir, no enxugar de lágrimas, no prender o choro, no sorrir.
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
E os ursos pançudos...
Nossa
história começa no inverno de 1000 e alguma
coisa,
na floresta
dos Ursos Pançudos. Eles tinham olhos
enorrrrrrrrrrrrrrrmes e, apesar da barriga grande, o estômago, aquela caixinha que fica dentro da
barriga, era pequeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeno. Tão pequeeeeeeeeeeeeeeeeno, que chegava a ser grande.
Por terem os
olhos grandes, tudo que viam aumentava de tamanho. As frutas ganhavam brilho,
as flores, um perfume especial.
Nosso
personagem se chama Urso Pançudo das
Amoras, filho de Papai Pançudo das
Amoras e Mamãe Pançuda das Amoras.
A família ganhou este nome, porque todos, obviamente, vivem a plantar, colher e comer
amoras. Quanto mais comem, maiores ficam suas
barrigas... daí o nome “Pançudo das Amoras”. Mas, aqui entre nós, eles comem de
tudo. De amoras ao que você puder imaginar ou eles puderem encontrar.
Os Pançudos
têm uma tradição,ou melhor, mania, é mania, todo dia, naquela mesma hora, mania: quando chega o inverno, todos
precisam plantar amoras, muitas amoras. No bosque há um quadro enorme com o
nome dos Pançudinhos. Ao lado dos nomes, os locais onde cada um deverá plantar
suas amoreirinhas.
A família
cresce junto com o bosque e junto com o bosque crescem suas panças, junto com as panças crescem as amoras e com as amoras, seus olhos.
Naquele
inverno, tudo parecia normal... mas coisas aconteceram. O primo do Sr. Pançudo das Amoras, o Sr. Ainda Mais Pançudo das Amoras, um sujeito cheio de ideias, resolveu
ter mais ideias, e as apresentou na Reunião Semanal dos Amoras Pançudos e Afins.
– E, se em
vez de amoras, plantássemos este ano pitangas. Pitangas, pitangas de todos os
tipos, tamanhos e cores? – sugeriu o Sr. Ainda
Mais e Mais Pançudo, que quanto mais
falava, mais pançudo ficava, só de imaginar aquela quantidade de pitanga
cobrindo o bosque.
A confusão
tomou conta da Reunião. Uns achavam absurdo: “Que desatino/loucura!”. Outros,
nojento: “Pitanga, meleca, irque”. O Sr. Eu Te Avisei Pançudão completa
assustado, “O gosto pode ser estranho, esquisito...”. E havia aqueles que nem
sabiam do que se tratava, mas: “Plantar qualquer coisa que não seja amora? Não,
definitivamente NÃO!”.
“Afinal, por
que incomodava tanto plantar pitangas em vez de amoras?”, pensou o Sr. Ainda Mais, Mais e Mais Pançudo.
– Mudar dá
alergia, coceira, aflição, disse um pançudinho lá do fundo da sala.
– Mudar dá
dor de barriga, piriri e tontura, gritou outro.
E assim
foram pipocando os sintomas e as agonias. Tantas foram as manifestações que
resolveram encerrar a reunião.
Mas, o Sr. Ainda Mais Pançudo era tinhoooooooooooooooooooooso.
Quando enfiava algo na cabeça, costurava o pensamento e não sossegava até sua
vontade se realizar.
Assim,
esperou a noite chegar e todos os pançudinhos se deitarem. Escondeu-se em uma
moita e, quando tudo se aquietou, tirou de seu bolsinho algumas sementes de
pitanga. Rapidamente, lançou-as na terra e pensou: “Agora é só esperar brotar”.
No dia
seguinte, como mágica, surge no meio da floresta um belo pezinho de pitanga.
Pouco a pouco, os pançudinhos vão percebendo a novidade. Com receio, se
aproximam e percebem que nada de mal acontece. Sem brotoeja nem dor de barriga.
Uns acham até a fruta bonitinha.
Os
comentários começam, e a confusão se instaura. Todos, ao perceberem a
pitangueira, querem falar ao mesmo tempo.
– É a árvore
diferente da igual que estamos acostumados?, um pergunta. – Acho que sim, mas
será? ainda não estou sentido nada de estranho, outro responde.
– É verdade,
também não sinto nada, fala mais um pançudinho.
No meio da
algazarra, chega o Sr. Ainda Mais, Mais, Mais e Mais Pançudo e tenta pôr ordem na
bagunça.
– Silêncio,
meus amigos, silêncio. Caros pançudos e
pançudinhos, como vocês puderam ver, nada de ruim aconteceu. A pitangueira está
aí, e nós aqui a admirá-la.
Nesse
momento, um grita: “Ela tem um perfume delicioso”. E outro pançudinho completa,
“Apetitoso!”.
Daí em
diante, todos queriam comentar, admirar e, claro, experimentar. E foi assim que,
no inverno de 1000 e alguma coisa, nasceu a primeira de
inúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúmeras pitangueiras. Depois vieram as mangueiras, laranjeiras,
cerejeiras, pereiras, jabuticabeiras, ameixeiras, limoeiros, cajuzeiros,
jaqueiras e todas as árvores frutíferas que se pode imaginar.
E sempre que
algum pançudo ou pançudinho sugere, nas Reuniões Semanais dos Amoras,
Mangueiras, Laranjeiras, Cerejeiras, Pereiras, Jabuticabeiras, Ameixeiras, Limoeiros,
Cajuzeiros, Jaqueiras e Todas as Árvores Frutíferas Que Se Pode Imaginar, há
sempre um pançudo ou pançudinho que afirma, “Será que não vai dar coceira,
piriri?”. E o Sr. Ainda Mais, Mais, Mais, Mais e Mais Pançudo fala bem allllllllllllllto pra todos ouvirem:
"Olhem para
nossos campos... Se não fosse nossa coragem, curiosidade e empenho, não
teríamos toda esta infinidade de sabores, cores e perfumes. Lembrem-se, quando
outras ideias diferentes das que estamos acostumados surgirem, temos de tentar,
experimentar, experimentar, experimentar.... se não deu certo, não deu e daí, não
deu e daí, tentamos diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e
diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e
diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e
diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e
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diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e
diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e
diferente e...
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Ah... se eu te
encontrasse...
Se
em uma esquina eu te encontrasse, diria tudo que deixei de dizer,
receberia
você de braços abertos...
Primeiro
te abraçaria, bem apertado, pra matar a saudade – 22 anos...
Depois
choraria por mim, por você, por nós. Nós que acredito nunca termos sido.
E
aí, sentaríamos para uma longa conversa. Poderia ser no Rio, onde tudo começou,
em São Paulo, ou quem sabe em Verona, onde depois esticaríamos até I Ronchi.
Diria que, finalmente, consegui parar de fumar. Que, logo depois que você foi,
às vezes levava um susto com nossa semelhança no espelho. Que um ano depois de
sua partida, sua filha mais velha se casou, e eu me separei. Que de lá pra cá,
me fechei em copas.
E
te perguntaria tanta coisa... e te falaria tanta coisa, meio sem cronologia,
meio sem pé nem cabeça. Agiria como uma criança, e abriria uma caixa de
porquês. Por que fiquei, assim, triste? por que não fomos mais presentes? por
que não foi ao meu encontro? por que não deixou rastro pra eu ir ao seu?
Voltaria
a ser criança, adolescente, adulta. Resgataria manhãs, tardes, noites,
madrugadas. Natais, réveillons, aniversários, partidas, e, se possível, até meu
parto. Dissecaria nossas vidas...
tiraria todas as dúvidas, pagaria todas as dívidas... romperia todas as
barreiras... te acolheria, mergulharia dentro de você, meio que voltando, e aí
nasceria de novo, sem frio.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Inauguração
Caros amigos, letrilha é um espaço que encontrei para publicar meus textos, pensamentos. Como em uma trilha, colocarei as letrinhas em ordem ou desordenadamente e espero formar palavras e ideias de interesse. Nesta "edição", inicio com um miniconto que, quem sabe, poderá virar uma coisa maior...
Nicolau...
...um menino, que sabia demais
1º movimento
Chove muito...
Nicolau sabe que nestes dias não pode sair.
Um descuido, já era.
Ele é o que se pode chamar de redondo. Rosto,
olhos, coxas, orelhas, bumbum, tudo redondo.
É filho único, sua mãe, distraída,
deixou o tempo passar; naquela altura, achava que não conseguiria mais.
“Jamais”, dizia. “Nunca, imagina...”, de repente, surge Nicolau, redondo,
macio, fofo, quase de pelúcia... quase de verdade.
Em seus braços, eles se aqueciam. Seus olhos
se encontravam, se perdiam, se achavam um no outro... Que encanto era esse?
Quando ele ouvia seus passos, seu coraçãozinho disparava, tinha pressa, sentia
frio, depois quentinho...
Seu pai... bom, isso é uma outra história.
Quando Nicolau nasceu, seu pai, envolvido em enredos e personagens, se perdeu
em uma de suas narrativas... eram tantas vírgulas, que sua mãe, depois de inúmeros
travessões, decidiu pôr um ponto final naquela história... será?
Daí a adoração do menino por jogos de
palavras. Ele acreditava poder resgatar seu pai em uma daquelas linhas... Para
Nicolau, é uma questão de ritmo, pontuação.
Certa vez, acordou com a sensação de outra
época. Tudo remetia ao passado: a luz, os barulhos da rua, o perfume... bastava
fechar os olhos ou mesmo abertos, voltava alguns anos. Até hoje não sabe por
que isso acontece, só em certos dias, em geral quando está longe, descolado...
A sensação é boa e angustiante. É o querer mergulhar no tempo e se deixar
levar.
Já é tarde. E o sono não chega. A cama, o
travesseiro, os lençóis, a luz apagada, silêncio total, todos estão prontos, e
nada... Nicolau, sem perceber, se vê a brincar de Deus. Seu coração dispara e
imagens distantes retornam. Tudo volta ao que era, do jeito que nunca
aconteceu. Sua mãe o abraça com força, beija-o... seu pai diz que tudo acabará
bem, que todos serão felizes pra sempre... bolo de chocolate, canja de galinha,
doce de leite... O nunca e o pra sempre juntos...
2º movimento
- A alma da mamãe tá tomando banho...
- Você usa sabão?
- Não, meu querido, uso as lembranças.
Naquela manhã, Nicolau estava especialmente curioso. Tudo
era motivo de indagação. Por que o céu é em cima? Por que hoje não é sábado?
Por que estou chorando e não estou triste? Acabei de comer, mas ainda estou com
fome? Pra onde foi todo o mundo?
Com seu ouvido aguçado, recebia respostas de
perguntas que nem imaginava poder fazer. Às vezes se achava um super-herói...
enxergava a distância... Pensava que podia ter vários bolsinhos para colocar
tudo aquilo que chegava até ele. Depois, mais tarde, com calma, organizaria
cada pergunta junto de cada resposta. Desse modo entenderia tudo, e nada
ficaria sem solução, cutucando...
O
problema é que quando a curiosidade fazia cócegas, era prenúncio de confusão... Sábado, de
manhãzinha... todos ocupados, de um lado pro outro... Nicolau, na sala, ouviu
alguém sussurrando, contando um segredo. Paradinho, percebeu que era um código,
alguém marcando encontro secreto, bem escondido, bem longe dali, mas que de
repente ficou tão perto...
Ele podia sentir o que ainda não estava
preparado pra entender... prendeu a respiração e gritou: estátua.
3º movimento
- O almoço está na mesa... a comida vai
esfriar...
- Já vou - respondeu. Nicolau sabia que não podia deixar transparecer nada, nem uma gotinha de suor, nada. A partir dali, acabara de ingressar em uma missão secretíssima... E o pior: como um agente duplo. Precisava ser discreto e estabanado. Sério, mas brincalhão. Pensativo e falador. Atento e distraído... As coisas estavam ficando complicadas.
Os dias passaram... Sem informações,
contatos, nada. Um silêncio meio véspera de desgraça... por coincidência,
véspera de Natal. As crianças no colégio falavam sobre seus presentes, e o pequeno morria de
medo de seu futuro, logo depois daquela noite... depois daquela maldita
informação... maldita hora em que estava ali sem querer estar. Não adiantava
fugir, foi convocado... o trabalho era sério: ou aceitava ou aceitava. Tinha de
cumprir sua missão. Resolveu relaxar. Quando ouviu passos, cada vez mais
próximos, mais íntimos, chegou a fechar os olhinhos e tapar
os ouvidos. E pensou: “se não ouço e não vejo, não existe”. Infelizmente, quando
se trata de missão secreta, esses truques não funcionam.
- Ouça com bastante atenção. Eu te amo, vou
sentir muitas saudades, mas preciso ir embora. Você entendeu? Quer que eu
repita? Estou com pressa, mas posso esclarecer qualquer dúvida. Este é o momento
dos detalhes... Se quiser anotar alguma coisa, faça agora. Não sei quando nos
veremos nem sei se... Você entendeu?
Nicolau ficou tão atordoado que não conseguia
falar... “que missão é essa, meu Deus. Será que vou dar conta?”. Tinha que dar,
pois, quando percebeu, não havia mais ninguém ao seu lado.
No dia seguinte, os objetos, as pessoas, tudo
havia trocado de lugar.
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