E os ursos pançudos...
Nossa
história começa no inverno de 1000 e alguma
coisa,
na floresta
dos Ursos Pançudos. Eles tinham olhos
enorrrrrrrrrrrrrrrmes e, apesar da barriga grande, o estômago, aquela caixinha que fica dentro da
barriga, era pequeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeno. Tão pequeeeeeeeeeeeeeeeeno, que chegava a ser grande.
Por terem os
olhos grandes, tudo que viam aumentava de tamanho. As frutas ganhavam brilho,
as flores, um perfume especial.
Nosso
personagem se chama Urso Pançudo das
Amoras, filho de Papai Pançudo das
Amoras e Mamãe Pançuda das Amoras.
A família ganhou este nome, porque todos, obviamente, vivem a plantar, colher e comer
amoras. Quanto mais comem, maiores ficam suas
barrigas... daí o nome “Pançudo das Amoras”. Mas, aqui entre nós, eles comem de
tudo. De amoras ao que você puder imaginar ou eles puderem encontrar.
Os Pançudos
têm uma tradição,ou melhor, mania, é mania, todo dia, naquela mesma hora, mania: quando chega o inverno, todos
precisam plantar amoras, muitas amoras. No bosque há um quadro enorme com o
nome dos Pançudinhos. Ao lado dos nomes, os locais onde cada um deverá plantar
suas amoreirinhas.
A família
cresce junto com o bosque e junto com o bosque crescem suas panças, junto com as panças crescem as amoras e com as amoras, seus olhos.
Naquele
inverno, tudo parecia normal... mas coisas aconteceram. O primo do Sr. Pançudo das Amoras, o Sr. Ainda Mais Pançudo das Amoras, um sujeito cheio de ideias, resolveu
ter mais ideias, e as apresentou na Reunião Semanal dos Amoras Pançudos e Afins.
– E, se em
vez de amoras, plantássemos este ano pitangas. Pitangas, pitangas de todos os
tipos, tamanhos e cores? – sugeriu o Sr. Ainda
Mais e Mais Pançudo, que quanto mais
falava, mais pançudo ficava, só de imaginar aquela quantidade de pitanga
cobrindo o bosque.
A confusão
tomou conta da Reunião. Uns achavam absurdo: “Que desatino/loucura!”. Outros,
nojento: “Pitanga, meleca, irque”. O Sr. Eu Te Avisei Pançudão completa
assustado, “O gosto pode ser estranho, esquisito...”. E havia aqueles que nem
sabiam do que se tratava, mas: “Plantar qualquer coisa que não seja amora? Não,
definitivamente NÃO!”.
“Afinal, por
que incomodava tanto plantar pitangas em vez de amoras?”, pensou o Sr. Ainda Mais, Mais e Mais Pançudo.
– Mudar dá
alergia, coceira, aflição, disse um pançudinho lá do fundo da sala.
– Mudar dá
dor de barriga, piriri e tontura, gritou outro.
E assim
foram pipocando os sintomas e as agonias. Tantas foram as manifestações que
resolveram encerrar a reunião.
Mas, o Sr. Ainda Mais Pançudo era tinhoooooooooooooooooooooso.
Quando enfiava algo na cabeça, costurava o pensamento e não sossegava até sua
vontade se realizar.
Assim,
esperou a noite chegar e todos os pançudinhos se deitarem. Escondeu-se em uma
moita e, quando tudo se aquietou, tirou de seu bolsinho algumas sementes de
pitanga. Rapidamente, lançou-as na terra e pensou: “Agora é só esperar brotar”.
No dia
seguinte, como mágica, surge no meio da floresta um belo pezinho de pitanga.
Pouco a pouco, os pançudinhos vão percebendo a novidade. Com receio, se
aproximam e percebem que nada de mal acontece. Sem brotoeja nem dor de barriga.
Uns acham até a fruta bonitinha.
Os
comentários começam, e a confusão se instaura. Todos, ao perceberem a
pitangueira, querem falar ao mesmo tempo.
– É a árvore
diferente da igual que estamos acostumados?, um pergunta. – Acho que sim, mas
será? ainda não estou sentido nada de estranho, outro responde.
– É verdade,
também não sinto nada, fala mais um pançudinho.
No meio da
algazarra, chega o Sr. Ainda Mais, Mais, Mais e Mais Pançudo e tenta pôr ordem na
bagunça.
– Silêncio,
meus amigos, silêncio. Caros pançudos e
pançudinhos, como vocês puderam ver, nada de ruim aconteceu. A pitangueira está
aí, e nós aqui a admirá-la.
Nesse
momento, um grita: “Ela tem um perfume delicioso”. E outro pançudinho completa,
“Apetitoso!”.
Daí em
diante, todos queriam comentar, admirar e, claro, experimentar. E foi assim que,
no inverno de 1000 e alguma coisa, nasceu a primeira de
inúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúmeras pitangueiras. Depois vieram as mangueiras, laranjeiras,
cerejeiras, pereiras, jabuticabeiras, ameixeiras, limoeiros, cajuzeiros,
jaqueiras e todas as árvores frutíferas que se pode imaginar.
E sempre que
algum pançudo ou pançudinho sugere, nas Reuniões Semanais dos Amoras,
Mangueiras, Laranjeiras, Cerejeiras, Pereiras, Jabuticabeiras, Ameixeiras, Limoeiros,
Cajuzeiros, Jaqueiras e Todas as Árvores Frutíferas Que Se Pode Imaginar, há
sempre um pançudo ou pançudinho que afirma, “Será que não vai dar coceira,
piriri?”. E o Sr. Ainda Mais, Mais, Mais, Mais e Mais Pançudo fala bem allllllllllllllto pra todos ouvirem:
"Olhem para
nossos campos... Se não fosse nossa coragem, curiosidade e empenho, não
teríamos toda esta infinidade de sabores, cores e perfumes. Lembrem-se, quando
outras ideias diferentes das que estamos acostumados surgirem, temos de tentar,
experimentar, experimentar, experimentar.... se não deu certo, não deu e daí, não
deu e daí, tentamos diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e
diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e
diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e
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