quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016



Carnaval




Descem a Brigadeiro
sob sol inclemente
vestidos de nada
 e algumas cores...

Serão felizes
por algumas
bêbadas horas...

Sorrateiramente
chega a quarta-feira de cinzas
a recolher os foliões...

E o ronco da cuíca surdo
a varrer da avenida
delírios de purpurina.



Gil Lima & Mônica Ronca Rocha

terça-feira, 29 de dezembro de 2015



           Resgate



Traga o brilho da noite pro meu coração

a brasa do fogo a minha vida

a paixão de seus olhos pro meu acordar

seu tempo a preencher meu vazio

Tente...

Traga qualquer coisa, mas

Traga-me de volta

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012


Ciao, Ameixa



Ainda ouço o barulho surdo....
um movimento quase voo, um mergulho, o partir

Minha mocinha, assanhada, lotada de vida, cheia de alegria, de amor.
Chegou na hora certa, de vagarinho, assustada, ocupando aos poucos a casa.
Me ocupando aos poucos, até me tomar por inteira. 

Conforme caminho, tropeço em você. Um pelo aqui, outro ali, um móvel com suas mordidinhas, a barra da capa da poltrona ainda virada pelo movimento do seu corpo ao sair debaixo dela. E pelo amor que vivemos e construímos, terei você sempre em mim, comigo.
Ciao, Ameixa.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012



                             

A cidade das rimas

 

A confusão era geral. O congestionamento já dava as caras no vilarejo vizinho...

 

Voltando ao início, tentarei explicar o inexplicável.

Rimacity era uma cidade pacata.

 O dentista, seu Manezinho, tinha consultório, mas, na verdade, o povo dizia que o sonho dele era ser chefe de cozinha.

A professora, dona Carlotinha, queria mesmo um dia poder cuidar dos dentes de todo o povo.

O médico, dr. Abelardo, gostava realmente de vestir uma sapatilha e rodar mundo dançando.

Enfim, todos faziam alguma coisa, ou pensavam que faziam.
 
 
Num dia, em que chovia mais que pipoca estourando na panela. Sem explicação, as pessoas deram a falar em rima. As repostas podiam não combinar, mas tudo saía em rima.

                                                             

...na farmácia,

- Bom-dia, sr. Alfredo, como vai o Godofredo?, dizia dona Mocinha.

- Vai bem, dona Neném.

- O sr. tem remédio contra bronquite?

- O de bronquite acabou, mas tenho um pra sinusite. Leve pra sua filha que sofre deste mal. Ele pensava, “perco a venda, mas não perco a rima”.

 

...no mercado,

- Olá sr. Waldemar , já decidiu o que comprar?

- Já, sr. Sardinha, quero peixe, pois vou fazer amanhã de manhãzinha.

- Então fale com a Laurinha, ela hoje tem maminha bem fresquinha.

 



E os dias passavam. Bronquite rimando com sinusite, Neném com sr. vai bem...

No início, o pessoal achou divertido. Depois começou a se preocupar, pois as coisas estavam ficando confusas. Vejam por vocês mesmos.

Dona Gumercinda achava seu nariz enorrrrrrrrrrrrme, mas não conseguia rimá-lo com nada: “meu nariz parece um elefante, já a minha orelha encosta na minha sobrancelha”. Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

- Então vamos operar seu , que mais parece o boi do seu Zezé.

- O meu pé, dr.?!!!!! – Perguntou assustada?

E a cirurgia se deu. D. Gumercinda continuou com o nariz enorrrrrrrrrrme, mas o pé de 40 passou a 34. Precisou renovar todo o estoque de sapatos. E tamancas. Ela era tamanqueira, dançarina de folcore lusitano. Mas desse jeito conseguiu finalmente dar os passos de seus sonhos, além dos saltos, é claro.  

O exemplo mais curioso aconteceu com o sr. Otaviano, o pescador. Precisava reformar o casco do barco e fazer alguns reparos. Queria aumentar o negócio, poder vender mais peixes. Ao chegar à oficina, sem pensar, foi logo dizendo: “Quero consertar minha embarcação. Do meu pesqueiro, que tal fazermos um barco de passageiro?”. Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

E o conserto foi feito. De pesqueiro passou a barco de turismo. No fim, seu Otaviano, ficou bem contente, já não tinha mais idade para enfrentar o mar, correndo atrás de peixe. 

 




De caso em caso, a cidade se transformava. Seus moradores trocavam de ocupação, mudavam de cardápio, refaziam amizades, se divertiam com tanto movimento, tanta vida...

 




E, assim, volto ao começo...

A confusão era geral. O congestionamento já dava as caras no vilarejo vizinho.

Agora posso explicar o inexplicável: a mania da rima se espalhou. Todos queriam ir a Rimacity, que, na verdade, antes se chamava Lugar Comum.

 

 

 

 

 

 

      

quinta-feira, 20 de setembro de 2012


Curtas

Nunca convide para o mesmo jantar Alice, de Lewis Carroll, Mônica, de Maurício de Souza, e Lucille Ball, da série
I love Lucy...
...Alice ocuparia todo o set,
Mônica sairia dando coelhadas nos convivas
e Lucy derrubaria as travessas.



Meu cérebro está a se transformar em película.
Nessas quase duas semanas, vi mais de 20 filmes. Comédia, drama, bons, fracos, medianos, excelentes.
Mergulho quadro a quadro, me perco nas imagens, nos diálogos, personagens, viajo com as histórias.
Vivo um faz de conta de que tudo é verdade.
 
Muitas vezes posso lhe dizer coisas que não te toquem. Saiba descobrir o sentido desses atos, são retratos de minha alma. 

A vida percorre caminhos que nem
sempre identificamos em nossa geografia.

Bebo, e prossigo a cada gole, a cada gesto, no levar o copo à boca, no engolir, no enxugar de lágrimas, no prender o choro,  no sorrir.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

E os ursos pançudos...
 
Nossa história começa no inverno de 1000 e alguma coisa,
na floresta dos Ursos Pançudos. Eles tinham olhos enorrrrrrrrrrrrrrrmes e, apesar da barriga grande, o estômago, aquela caixinha que fica dentro da barriga, era pequeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeno. Tão pequeeeeeeeeeeeeeeeeno, que chegava a ser grande.
Por terem os olhos grandes, tudo que viam aumentava de tamanho. As frutas ganhavam brilho, as flores, um perfume especial.
Nosso personagem se chama Urso Pançudo das Amoras, filho de Papai Pançudo das Amoras e Mamãe Pançuda das Amoras. A família ganhou este nome, porque todos, obviamente, vivem a plantar, colher e comer amoras. Quanto mais comem, maiores ficam suas barrigas... daí o nome “Pançudo das Amoras”. Mas, aqui entre nós, eles comem de tudo. De amoras ao que você puder imaginar ou eles puderem encontrar.
Os Pançudos têm uma tradição,ou melhor, mania, é mania, todo dia, naquela mesma hora, mania: quando chega o inverno, todos precisam plantar amoras, muitas amoras. No bosque há um quadro enorme com o nome dos Pançudinhos. Ao lado dos nomes, os locais onde cada um deverá plantar suas amoreirinhas.
A família cresce junto com o bosque e junto com o bosque crescem suas panças, junto com as panças crescem as amoras e com as amoras, seus olhos.
Naquele inverno, tudo parecia normal... mas coisas aconteceram. O primo do Sr. Pançudo das Amoras, o Sr. Ainda Mais Pançudo das Amoras, um sujeito cheio de ideias, resolveu ter mais ideias, e as apresentou na Reunião Semanal dos Amoras Pançudos e  Afins. 
 
 – E, se em vez de amoras, plantássemos este ano pitangas. Pitangas, pitangas de todos os tipos, tamanhos e cores? – sugeriu o Sr. Ainda Mais e Mais Pançudo, que quanto mais falava, mais pançudo ficava, só de imaginar aquela quantidade de pitanga cobrindo o bosque.
 
A confusão tomou conta da Reunião. Uns achavam absurdo: “Que desatino/loucura!”. Outros, nojento: “Pitanga, meleca, irque”. O Sr. Eu Te Avisei Pançudão completa assustado, “O gosto pode ser estranho, esquisito...”. E havia aqueles que nem sabiam do que se tratava, mas: “Plantar qualquer coisa que não seja amora? Não, definitivamente NÃO!”.
“Afinal, por que incomodava tanto plantar pitangas em vez de amoras?”, pensou o Sr. Ainda Mais, Mais e Mais Pançudo.
 – Mudar dá alergia, coceira, aflição, disse um pançudinho lá do fundo da sala.
 – Mudar dá dor de barriga, piriri e tontura, gritou outro.
E assim foram pipocando os sintomas e as agonias. Tantas foram as manifestações que resolveram encerrar a reunião.
Mas, o Sr. Ainda Mais Pançudo era tinhoooooooooooooooooooooso. Quando enfiava algo na cabeça, costurava o pensamento e não sossegava até sua vontade se realizar.
Assim, esperou a noite chegar e todos os pançudinhos se deitarem. Escondeu-se em uma moita e, quando tudo se aquietou, tirou de seu bolsinho algumas sementes de pitanga. Rapidamente, lançou-as na terra e pensou: “Agora é só esperar brotar”.  
No dia seguinte, como mágica, surge no meio da floresta um belo pezinho de pitanga. Pouco a pouco, os pançudinhos vão percebendo a novidade. Com receio, se aproximam e percebem que nada de mal acontece. Sem brotoeja nem dor de barriga. Uns acham até a fruta bonitinha.
Os comentários começam, e a confusão se instaura. Todos, ao perceberem a pitangueira, querem falar ao mesmo tempo.
 – É a árvore diferente da igual que estamos acostumados?, um pergunta.    – Acho que sim, mas será? ainda não estou sentido nada de estranho, outro responde. 
 – É verdade, também não sinto nada, fala mais um pançudinho.
 
No meio da algazarra, chega o Sr. Ainda Mais, Mais, Mais e Mais Pançudo e tenta pôr ordem na bagunça.
 – Silêncio, meus amigos, silêncio.  Caros pançudos e pançudinhos, como vocês puderam ver, nada de ruim aconteceu. A pitangueira está aí, e nós aqui a admirá-la.
Nesse momento, um grita: “Ela tem um perfume delicioso”. E outro pançudinho completa, “Apetitoso!”.
Daí em diante, todos queriam comentar, admirar e, claro, experimentar. E foi assim que, no inverno de 1000 e alguma coisa, nasceu a primeira de inúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúmeras pitangueiras. Depois vieram as mangueiras, laranjeiras, cerejeiras, pereiras, jabuticabeiras, ameixeiras, limoeiros, cajuzeiros, jaqueiras e todas as árvores frutíferas que se pode imaginar.
E sempre que algum pançudo ou pançudinho sugere, nas Reuniões Semanais dos Amoras, Mangueiras, Laranjeiras, Cerejeiras, Pereiras, Jabuticabeiras, Ameixeiras, Limoeiros, Cajuzeiros, Jaqueiras e Todas as Árvores Frutíferas Que Se Pode Imaginar, há sempre um pançudo ou pançudinho que afirma, “Será que não vai dar coceira, piriri?”. E o Sr. Ainda Mais, Mais, Mais, Mais e Mais Pançudo fala bem allllllllllllllto pra todos ouvirem: 
"Olhem para nossos campos... Se não fosse nossa coragem, curiosidade e empenho, não teríamos toda esta infinidade de sabores, cores e perfumes. Lembrem-se, quando outras ideias diferentes das que estamos acostumados surgirem, temos de tentar, experimentar, experimentar, experimentar.... se não deu certo, não deu e daí, não deu e daí, tentamos diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e diferente e...