sexta-feira, 26 de outubro de 2012



                             

A cidade das rimas

 

A confusão era geral. O congestionamento já dava as caras no vilarejo vizinho...

 

Voltando ao início, tentarei explicar o inexplicável.

Rimacity era uma cidade pacata.

 O dentista, seu Manezinho, tinha consultório, mas, na verdade, o povo dizia que o sonho dele era ser chefe de cozinha.

A professora, dona Carlotinha, queria mesmo um dia poder cuidar dos dentes de todo o povo.

O médico, dr. Abelardo, gostava realmente de vestir uma sapatilha e rodar mundo dançando.

Enfim, todos faziam alguma coisa, ou pensavam que faziam.
 
 
Num dia, em que chovia mais que pipoca estourando na panela. Sem explicação, as pessoas deram a falar em rima. As repostas podiam não combinar, mas tudo saía em rima.

                                                             

...na farmácia,

- Bom-dia, sr. Alfredo, como vai o Godofredo?, dizia dona Mocinha.

- Vai bem, dona Neném.

- O sr. tem remédio contra bronquite?

- O de bronquite acabou, mas tenho um pra sinusite. Leve pra sua filha que sofre deste mal. Ele pensava, “perco a venda, mas não perco a rima”.

 

...no mercado,

- Olá sr. Waldemar , já decidiu o que comprar?

- Já, sr. Sardinha, quero peixe, pois vou fazer amanhã de manhãzinha.

- Então fale com a Laurinha, ela hoje tem maminha bem fresquinha.

 



E os dias passavam. Bronquite rimando com sinusite, Neném com sr. vai bem...

No início, o pessoal achou divertido. Depois começou a se preocupar, pois as coisas estavam ficando confusas. Vejam por vocês mesmos.

Dona Gumercinda achava seu nariz enorrrrrrrrrrrrme, mas não conseguia rimá-lo com nada: “meu nariz parece um elefante, já a minha orelha encosta na minha sobrancelha”. Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

- Então vamos operar seu , que mais parece o boi do seu Zezé.

- O meu pé, dr.?!!!!! – Perguntou assustada?

E a cirurgia se deu. D. Gumercinda continuou com o nariz enorrrrrrrrrrme, mas o pé de 40 passou a 34. Precisou renovar todo o estoque de sapatos. E tamancas. Ela era tamanqueira, dançarina de folcore lusitano. Mas desse jeito conseguiu finalmente dar os passos de seus sonhos, além dos saltos, é claro.  

O exemplo mais curioso aconteceu com o sr. Otaviano, o pescador. Precisava reformar o casco do barco e fazer alguns reparos. Queria aumentar o negócio, poder vender mais peixes. Ao chegar à oficina, sem pensar, foi logo dizendo: “Quero consertar minha embarcação. Do meu pesqueiro, que tal fazermos um barco de passageiro?”. Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

E o conserto foi feito. De pesqueiro passou a barco de turismo. No fim, seu Otaviano, ficou bem contente, já não tinha mais idade para enfrentar o mar, correndo atrás de peixe. 

 




De caso em caso, a cidade se transformava. Seus moradores trocavam de ocupação, mudavam de cardápio, refaziam amizades, se divertiam com tanto movimento, tanta vida...

 




E, assim, volto ao começo...

A confusão era geral. O congestionamento já dava as caras no vilarejo vizinho.

Agora posso explicar o inexplicável: a mania da rima se espalhou. Todos queriam ir a Rimacity, que, na verdade, antes se chamava Lugar Comum.