A cidade das rimas
A confusão
era geral. O congestionamento já dava as caras no vilarejo vizinho...
Voltando ao início,
tentarei explicar o inexplicável.
Rimacity era uma cidade pacata.
O dentista, seu Manezinho, tinha consultório,
mas, na verdade, o povo dizia que o sonho dele era ser chefe de cozinha.
A professora,
dona Carlotinha, queria mesmo um dia poder cuidar dos dentes de todo o
povo.
O médico, dr.
Abelardo, gostava realmente de vestir uma sapatilha e rodar mundo dançando.
Enfim, todos
faziam alguma coisa, ou pensavam que faziam.
Num dia, em que chovia mais que pipoca estourando na panela. Sem explicação, as pessoas deram a falar em rima. As repostas podiam não combinar, mas tudo saía em rima.
...na farmácia,
- Bom-dia,
sr. Alfredo, como vai o Godofredo?, dizia
dona Mocinha.
- Vai bem, dona Neném.
- O sr. tem
remédio contra bronquite?
- O de bronquite acabou, mas tenho um pra sinusite. Leve pra sua filha que sofre
deste mal. Ele pensava, “perco a venda, mas não perco a rima”.
...no mercado,
- Olá sr. Waldemar , já decidiu o que comprar?
- Já, sr. Sardinha, quero peixe, pois vou fazer amanhã
de manhãzinha.
- Então fale
com a Laurinha, ela hoje tem maminha bem fresquinha.
E os dias passavam. Bronquite rimando com sinusite, Neném com sr. vai bem...
No início, o
pessoal achou divertido. Depois começou a se preocupar, pois as coisas estavam
ficando confusas. Vejam por vocês mesmos.
Dona
Gumercinda achava seu nariz enorrrrrrrrrrrrme, mas não conseguia rimá-lo com
nada: “meu nariz parece um elefante, já a minha
orelha encosta na minha sobrancelha”. Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
- Então
vamos operar seu pé, que mais parece o boi do seu Zezé.
- O meu pé,
dr.?!!!!! – Perguntou assustada?
E a cirurgia
se deu. D. Gumercinda continuou com o nariz enorrrrrrrrrrme, mas o pé de 40
passou a 34. Precisou renovar todo o estoque de sapatos. E tamancas. Ela era
tamanqueira, dançarina de folcore lusitano. Mas desse jeito conseguiu finalmente dar os passos de seus sonhos,
além dos saltos, é claro.
O exemplo
mais curioso aconteceu com o sr. Otaviano, o pescador. Precisava reformar o
casco do barco e fazer alguns reparos. Queria aumentar o negócio, poder vender mais
peixes. Ao chegar à oficina, sem pensar, foi logo dizendo: “Quero consertar
minha embarcação. Do meu pesqueiro, que tal fazermos um barco de passageiro?”.
Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
E o conserto
foi feito. De pesqueiro passou a barco de turismo. No fim, seu Otaviano, ficou bem
contente, já não tinha mais idade para enfrentar o mar, correndo atrás de
peixe.
De caso em caso, a cidade se transformava. Seus moradores trocavam de ocupação, mudavam de cardápio, refaziam amizades, se divertiam com tanto movimento, tanta vida...
E, assim, volto ao começo...
A confusão
era geral. O congestionamento já dava as caras no vilarejo vizinho.
Agora posso
explicar o inexplicável: a mania da rima se espalhou. Todos queriam ir a
Rimacity, que, na verdade, antes se chamava Lugar Comum.
Como sempre, MUITO BOM!!!Vou lendo, vou lendo, esperando o final, voce sabe como segurar um leitor, Monica.Nota MIL!!
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